Cruzei o parque naquela tarde simplória e nada especial de domingo. Não esperava encontra-lo, pois havia, há muito, desistido de esperar um reencontro repentino e magico. Mas aquele olhar me prendeu. Foi como olhar, depois de 500 anos, novamente para o céu estrelado.
Os cabelos cacheados e negros não sustentavam mais as perfeitas molas de marfim, mas o sorriso ainda era o de sempre, e o sentimento que aquela visão me causava ainda era a mesma, apenas tivera o cenário envelhecido. Ao me ver a surpresa estampou-se em seu rosto. Eu quase pude ouvi-lo pensar sobre isso em alto e bom som. Meu sorriso foi imediato, assim como dele.
Borboletas revoltosas embrulharam meu estômago e eu me senti, mais uma vez, a grandeza daquele sentimento que não poderia, jamais, ser morto. Palavras e gestos vieram à tona.
E um flash de lembrança deu-se em minha mente: A amizade pura; as tardes maçantes; as manhãs luminosas; os sorrisos; a compreensão; o começo de uma história; o primeiro beijo; o ultimo beijo e o fim.
As lagrimas assolaram meus olhos. Ele estava ali, por incrível que pareça, ele estava ali. Será que ele me acharia inconveniente por encontra-lo sem querer? Será que ele se lembrava das nossas promessas? Eu me lembrei de todos os textos escrevidos, porém nao enviados, para ele. Me lembrei de todas as palavras ditas em ensaios em vão.
Ao nos encontrarmos dei-lhe um abraço. Era do jeito que lembrava. Macio, quente e repleto. Olhei-lhe nos olhos e lhe desejei uma boa tarde, disse que estava com saudade. Mas não fui tão intensa quanto desejava ser. Rapidamente falamos sobre nossas vidas. Eu só gostaria de faze-lo pensar que eu não sentia mais todos aqueles sentimentos infantis. mas eu sentia.
Enquanto lhe perguntava sobre a vida me perguntava: Será que o destino nos uniria mais uma vez? Será que quando menos esperasse estaríamos juntos? Será que ele está tão inseguro quanto eu?
E a tarde se foi e eu nem vi. Agora me vejo sentada perante a janela pensando em tudo o que deveria ter sido dito, em tudo que eu deveria ter evitado falar. E eu sinto falta dele, mais uma vez.