segunda-feira, 18 de junho de 2012

O fim é uma certeza


“Aos poucos o céu ia se pintando do rosa tardio de todos os dias. O sol ia se escondendo gradualmente, dando, à todo aquele cenário, um brilho fúcsia.
O vento balançava os meus cabelos e me deixava gelada, mas o gelo do meu corpo não poderia ser comparado com o do seus olhos. E eu só procurava um bom motivo para não tentar, talvez inutilmente, derreter todo aquele gelo.
Aquelas crianças brincavam daquela forma pentelha e barulhenta de sempre, e você as observava com os olhos de um sonhador - aqueles que eu tanto amava.
E se aqueles olhos, aquele sorriso e aquela expressão não fossem suficientes para que eu implorasse por você, nada mais o seria. O tempo todo eu soube e, mesmo assim, por todos aqueles segundos eu desejei que o fim não tivesse chego. 
- Por que você me chamou aqui? - Você me olhou com aquele olhar de desprezo, que tanto me doía e me dava vontade de desabar, só pra ver se você permanecia assim, intocável. Mas eu me segurei e nem ao menos disse que você não precisava agir assim. 
- Eu tenho tanta coisa para dizer... Tanta coisa... - Eu ainda não chorava, mas me balançava, como se procurasse inconscientemente uma forma de permanecer inteira. Parecia que cada palavra sua arrancava um pedaço meu, elas ardiam, machucavam. 
- Ah, então fala logo! - Você virou seus olhos para cima, como se fosse idiotice de minha parte tentar falar com você. E, talvez, realmente fosse. 
Mas eu resolvi não olhar para você enquanto as palavras se formavam na minha mente e, consequentemente, nos meus lábios. Desviei meus olhos de todo e qualquer pedaço de você que eu poderia encontrar visível.
- Eu... Eu não entendo...- E fiquei quieta, deixando as reticências erguidas, como se fossem auto-explicativas. 
- O que você não entende?- E aí eu me senti uma idiota, um desperdício de espaço, como se todo o meu esforço fosse insuficiente para trazer uma faísca para dentro de você.
- Eu não entendo porquê eu não posso... Ah, deixa pra lá! Posso te fazer uma pergunta?- Eu estava tremendo, sentindo o canal lacrimal ardendo, como se as lágrimas estivessem próximas à borda. 
- Sim, pergunta...
- Você ainda pensa em mim?- Eu não me atrevi a olhar para cima. Seria humilhação demais!
- Não sei.
- Como assim não sabe? É a sua cabeça, só você sabe o que pensa... 
- Às vezes... Às vezes eu penso.
- Que vezes?
- Sei lá, quando eu te vejo, algo assim!
- E por que tem que ser assim, hein? 
-  Não sei, a gente não deu certo, não funcionou...
- Mas eu ainda penso em você, ainda gosto de você...
- ...
- E você? Ainda sente algo por mim? 
- Ah, não é assim... Não é só sentir ou não alguma coisa. Nada mais é a mesma coisa. 
- Eu sinto a sua falta, sinto saudades de gastar tempo com você, de falar besteira...
  E, sem perceber, olhei para cima, olhei pra você. Eu desejei, por um segundo, por mais que eu soubesse no fundo de mim que nós dois éramos errado, poder mudar o eu e você que deixamos para trás. 
Você veio mais perto, e eu consegui sentir seu cheiro, aquele que eu conhecia de cor. Te abracei em um segundo, num ímpeto, como se nunca antes tivesse te abraçado. Beijei o seu rosto, senti a sua boca na minha. E era tudo como se fosse pela primeira vez; como se estivéssemos nos beijando pela primeira vez. 
O beijo ainda era o mesmo e o sabor não tinha mudado. Mas algo dentro de nós mudou, era como se tivéssemos percebido o quanto o fato de nós dois sermos errados  um para o outro era uma certeza, como se você fosse certo e garantido para mim.
- Eu te amo...- E dessa vez foi você quem começou a falar. 
Eu também te amo, você sabe disso
E, mais cedo do que eu esperava, mais cedo do que eu poderia desejar, eu acordei. E descobri que você nunca havia voltado, que nós nunca havíamos nos beijado novamente - nem se quer tínhamos nos visto de novo. Nós não amávamos mais um ao outro. 
Tudo não havia passado de um sonho, mesmo que eu desejasse que fosse real. Nós dois fazemos um par melhor separados. E essa, talvez, tenha sido a única coisa certa que nós fizemos enquanto estávamos juntos: dizer adeus.
Hoje eu sei...”
30/08/09

domingo, 17 de junho de 2012

Sei lá


Sei lá. Sei lá sobre o vazio das nossas palavras, sei lá se ficou alguma coisa a ser dita, sei lá se eu estou apenas passando por uma fase ruim.
O que eu sei é que eu quero distância, distância de todo o seu sucesso em destruir tudo à sua volta, do seu egoísmo incomparável e de você, que conseguiu sempre ter se importado única e exclusivamente com você mesmo. 
É engraçado dizer que o melhor de mim foi o que me fez pior, foi o que me fez escorregar, foi o que me fez me calar diante do nada que eu me tornei por estar ao seu redor: apenas mais uma garota profundamente encantada com a máscara que você pintou para si. 
E não é que eu não sabia; eu bem sei que as pessoas são, em grande maioria, auto destrutivas; sei que quase ninguém se importa com os hiatos de caráter e que todo mundo diria que essa sou somente eu mesma, sendo quem eu realmente sou: um drama vivo.
Mas acredito que sentir por sentir é vazio; que amar por amar é idiotice e que conviver com as pessoas sem se envolver é simplesmente inútil. É por isso que eu sou assim: alegre quando alegre, contente quando contente e chorona quando sinto aquele maldito aperto no peito. 
“E nem o mais profundo mar
conseguiu apagar o brilho nos olhos
e o sorriso tão ímpar dessa Mona Lisa”