quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sempre Assim

Morro de vergonha de encontrar seus olhos,
E quando você passa eu procuro você por onde foi.
É sempre assim essa história,
É sempre fingir e fugir.

E quando eu falo com você, é outra pessoa quem responde,
Não eu, não falo por mim.
É sempre assim, eu chego e você precisa ir.
É sempre assim, você sai e eu me pergunto o que pensas de mim.

Meus olhos sempre encontram você em qualquer recinto,
Eu sempre me pergunto se devo ou não devo falar com você.
É sempre quente o seu beijo de despedida, sempre me faz querer mais.
É sempre um "adeus", nunca um "olá".

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Viver para respirar

Passou os dedos pequenos pela antiga mesa de madeira, fazendo com que toda a poeira que ali havia se prendesse em seus dedos. Aquela era a poeira de todos aqueles anos gastos em repetições de lembranças, dor e incompletude. A casa estava vazia, visto que estivera fechada há muito tempo. Fechada, mas nunca abandonada: as pessoas não abandonam as lembranças que amam.

Olhou pela janela de vidro, através da sacada e muito além da estrada que terminava em curva. Os campos que torneavam aquela estrada ainda eram verdes, mesmo depois de todos aqueles anos. A imagem dele partindo se fez em sua mente: a histeria que ela sentiu, a raiva, a dor, o medo e a solidão; todos os sentimentos que ainda a assolavam tão cruelmente. Parecia que fora ontem que ele partiu; parecia que fora ontem que ele a tinha feito em pedaços...

Fechou seus olhos com os fantasmas da lembrança. Aquele fora, realmente, o fim. Hoje ela tinha certeza, não haveria mais capítulos remanescentes naquela história, as suas vidas tomaram outros caminhos, caminhos opostos e completamente distintos. Hoje em dia ela tinha uma filha, um genro e um marido a compreendia. Mas o vazio ainda lhe preenchia o peito.

“Eu sinto muito, mas não dá mais...” - Ele dissera. E as palavras ainda cortavam, como pontas de facas que deixavam subentendidas todas as frases não ditas, com toda a história que lhe machucava.

Ela se lembrou da caixa de papelão, a caixa que ela ainda odiava com todas as forças de seu ser. Fora naquela caixa em que ele colocara todas as coisas que lhe pertenciam enquanto partia para longe. Fora aquela caixa que levera o seu coração.

Abriu os olhos e caminhou por aquela sala, sentiu as lembranças que aquela casa lhe passara. Trinta e dois anos se foram desde aquele dia e, ainda, havia a dor da lembrança. Mas a sua vida seguiu, a vida sempre continuou seguindo. O fim daquela história não era, necessariamente o seu fim; porque como ela dissera há tanto tempo atrás: Ninguém precisa, necessariamente, viver para respirar.